Mulheres no Turismo: pioneirismo, paixão e sensibilidade

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Três perfis femininos para se inspirar

Planejar uma longa viagem não é tarefa simples e, muito antes dos guias impressos, blogs, agências e sites de viagens existirem, houve quem desbravasse o mundo.

ida_pfeifferEm pleno século 19, quando o avião ainda não tinha sido inventado, a vienense Ida Laura Pfeiffer seguiu em uma jornada ao redor do planeta.

A exploradora viajou 15 anos.  Conheceu lugares como Índia, Taiti e Oriente Médio.  Adentrou selvas e escalou montanhas, encantou-se com a beleza da Baía de Guanabara e viu a sujeira de suas ruas em 1846. Encarou roteiros com pouco dinheiro, aceitou hospedagem de desconhecidos e até dormiu ao relento. Foi enganada por condutores de camelo e expulsa de Madagascar, tendo que caminhar por 53 dias.

Apesar dos contratempos, a vontade de viajar não morria e as narrativas de Pfeiffer tornaram-se livros, que foram traduzidos para sete idiomas e a colocaram nas sociedades de geografia de Berlim e Paris.

Antes de sair pelo mundo, a aventureira seguiu o protocolo: casou, criou dois filhos, deu aulas de música e desenho. Aos 45 anos e viúva, vendeu a casa e um piano e começou sua expedição.  Tantas experiências revelaram à Europa uma visão feminina de lugares desconhecidos e fizeram de Pfeiffer um mito de força para muitas mulheres.

Stella Barros

No Brasil do século 20 a empresária Stella Barros também imprimiu sua marca. A carioca que ficou conhecida como “Vovó Stella” fundou uma das mais tradicionais agências de viagens do País, há mais de 40 anos no mercado e, desde 2004, parte do Grupo Águia.

Com o nome e o carisma da fundadora, a Stella Barros Turismo levou três gerações de brasileiros para Estados Unidos, Europa e Brasil. Chegou a possuir 35 escritórios, um deles em Miami, e vendia seus produtos para milhares de agências em todo o País.

O interesse de Barros em trabalhar com viagens nasceu em 1957, quando atuava voluntariamente na presidência da Associação Cristã Feminina do Brasil, a ACF, onde fundou um departamento de Turismo. Antes disso, poucos destinos faziam parte de sua história.

Em 1965, aos 49 anos, com dois filhos já adultos e experiências profissionais anteriores a seu casamento, quebrou as barreiras de um mercado predominantemente masculino.

Visionária, inovou ao realizar roteiros para cursos de inglês em Miami e, a partir 1968, enviar crianças desacompanhadas ao primeiro parque da Disney World, na Califórnia. “Isso não existia no Brasil, aliás, não existia nem lá [Estados Unidos] e, durante muitos anos, foi o maior ‘boom’ de vendas. Todo mundo queria ir, até porque na época os jovens eram muito mais amarrados aos pais.”, analisa Luis Barros, filho de Stella e empresário do Turismo.

Operadora oficial da Disney no Brasil, embarcava 10 mil crianças nos meses de julho, o que a levou a desfilar nas tradicionais paradas do parque Magic Kingdom, na Flórida, em 1985, 1987 e 1992.

Desde 1962 ao lado de sua mãe no trabalho, Luis Barros atribui o sucesso da empresária ao otimismo: “Era impressionante. Ela nunca aceitava não como resposta, era geniosa a velhinha [risos]. Ela dizia: ‘se fechar a porta, abre a janela’. Não tinha medo de nada. Encarava qualquer problema.”

Apaixonada por viagens, Stella teve 46 passaportes carimbados e viajou por mais de 100 países.  A ‘selfmade woman’ faleceu em 2004, aos 95 anos, mas trabalhou diariamente até seus 86 e inspirou muitos ao redor. “Ela realmente era uma figuraça”, brinca Luis Barros.

silvia_del_rey

“Acho que algumas pessoas nascem “viajantes” e creio eu ser uma delas!”, a constatação é de Silvia del Rey, diretora de operações em campo da Top Service Incentive Travel & Eventos  que acumula em sua bagagem 66 países visitados. Entre as viagens estão 72 visitas aos Estados Unidos, 63 à Itália, 42 à França, 32 à Alemanha e 23 à Turquia. Aproximadamente 650 itinerários internacionais que, em uma estimativa de cinco dias para cada, resultariam em nove anos viajando sem interrupções.

Por sorte ou destino, Del Rey começou a viajar ainda criança com seus pais, mas foi a única entre os irmãos a querer se aventurar pelo mundo. Aos 13 anos conseguiu a aprovação da família para um intercâmbio de seis meses nos Estados Unidos.  Aos 19 fez um curso de piloto privado.

Como seus pais não abriam mão de um diploma universitário, graduou-se em Direito, mas seu sonho não tinha residência fixa. Aos 22 anos enviou um currículo e conseguiu um emprego por quatro meses a bordo de um navio de cruzeiro.  Não deixou mais o Turismo.

Com 10 passaportes no currículo, revela: “Sinto que sou brasileira, mas não nego que circulo muito “à vontade” pelo mundo. Ele não me assusta, ao contrário, me encanta, me acolhe!”.

Entre o que viveu de mais exótico, divide um episódio no Tahiti: “Estava em um hotel e soube que uma das funcionárias, responsável pela decoração dos ambientes e dos arranjos florais do hotel, era na realidade um homem, […]um ‘Fa’afafine’. Em algumas sociedades das ilhas do Pacífico Sul existe um costume que, em uma casa onde não nasceram meninas, normalmente úteis nos afazeres domésticos, a família cria e educa um dos filhos homens como mulher […]”.   

Acostumada com partidas e chegadas, não sente falta da rotina e compreende que viajar pede concessões: “Quem escolhe o Turismo deve estar preparado para isso. A vida é o resultado das opções que fazemos. […] Viajar implica em estar fora do convívio diário com a família. O importante é que as pessoas próximas respeitem e admirem essa profissão”.

Diferentemente de Ida Pfeiffer, Del Rey nunca se viu ameaçada como viajante: “Sempre me senti respeitada […] Sei que há países que ainda não permitem a entrada livre de mulheres turistas, a não ser quando a convite de um cidadão local, mas acredito e espero que, muito em breve, esse preconceito, como muitos outros, não perdure”.

Na opinião da diretora, sensibilidade é uma marca feminina no Turismo. “Acredito que elas [as mulheres] usem da perspicácia e inteligência para sentir o mercado ou até direcioná-lo.”, aponta.

Veterana em pegar a estrada, reconhece que o aprendizado é diário, mas sintetiza: “Algumas coisas nunca devo levar na bagagem, como mau humor, pessimismo, indisposição, ostentação e preconceitos. As que devem sempre estar na bagagem de mão são ânimo, modéstia, compreensão e, principalmente, simpatia, pois um sorriso fala qualquer idioma!”.